Das asas às raízes:
a jornada de Anita Studer
Antes da colonização europeia, o Brasil era coberto por vastas florestas primárias, incluindo a Amazônia e a Mata Atlântica. Essas florestas se estendiam ao longo da costa brasileira, do sul de Belém a São Paulo, cobrindo cerca de 3.200 km e uma área de um milhão de km². Mais de 500 anos de exploração da terra destruíram 95% da Mata Atlântica, deixando apenas fragmentos. Um desses remanescentes é a floresta "Pedra Talhada" no nordeste do Brasil, abrangendo os estados de Alagoas e Pernambuco.
É aqui que se desenrola a história de Anita Studer e da Nordesta Reflorestamento e Educação.
Tudo começou em 1976, quando a bióloga Anita Studer viajou ao Brasil pela primeira vez para estudar as numerosas espécies de pássaros locais. Cinco anos depois, ela avistou em uma pequena floresta no estado de Alagoas, no nordeste do país, um pássaro muito ameaçado chamado Curaeus forbesi pelos cientistas e Anumara pelas populações locais.
Ela relatou sua descoberta ao seu diretor de pesquisa, que concordou que este pássaro seria um excelente tema para uma tese. No entanto, ela precisava apressar seus estudos porque a rápida desmatamento da área condenava sua sobrevivência a curto prazo a cerca de nove a dez anos. Juntamente com o Anumara, todas as outras espécies endêmicas da região desapareceriam.
Durante um sobrevoo da região, Anita percebeu a extensão da catástrofe e a ameaça iminente para todo o ecossistema. O maciço de Pedra Talhada, abrangendo 5.000 hectares, era o último remanescente de floresta tropical primária da região, cercado por vastas terras secas, "um oásis no meio de um deserto". Assim, a missão de Anita tomou um rumo drástico. Ela mudou seu foco da pesquisa ornitológica e começou a iniciar esforços de conservação para a floresta de Pedra Talhada.
Anita reconheceu a importância de colaborar com a população local para alcançar seus objetivos de conservação. No entanto, os esforços iniciais foram desafiadores, pois os moradores viam a floresta principalmente como uma fonte de caça, madeira ou uma área perigosa devido às cobras. Diante da falta de interesse dos proprietários de terras e de uma população local motivada economicamente, Anita elaborou um novo plano. Ela identificou a água como um recurso crucial na região propensa à seca e usou isso para garantir reuniões públicas com prefeitos, vereadores, proprietários de terras e sindicatos de trabalhadores rurais.
Em 1985, Anita se encontrou com Frederico Maia e Marcelo Vasconcelos Lima, o prefeito e vice-prefeito de Quebrangulo. Dada a sua situação social e econômica precária, eles expressaram preocupações sobre a complexidade de conscientizar a população sobre a conservação da floresta.
Anita propôs uma solução: ela se comprometeria a reconstruir uma escola local dilapidada em troca da colaboração dos prefeitos na petição ao governador para a proteção da floresta. O acordo, selado com um aperto de mão, marcou um momento decisivo na jornada da Nordesta. Frederico Maia coletou assinaturas de todos os sete municípios beneficiados pelas nascentes de água de Pedra Talhada. Como resultado, em 18 de agosto de 1985, a escola foi construída e o governador Divaldo Suruagy assinou o decreto n° 6551, instituindo a criação do Parque Estadual de Pedra Talhada.
Em 15 de maio de 1985, Anita criou oficialmente a Associação Nordesta Reflorestamento e Educação com o objetivo de financiar projetos para a população de Quebrangulo em troca do compromisso deles de proteger a floresta.
Nos anos seguintes, Nordesta lançou vários programas voltados ao desenvolvimento socioeconômico da região de Pedra Talhada através de projetos educacionais. A construção de escolas e o apoio a centros infantis forneceram abrigo, alimentação, cuidados, educação e treinamento vocacional para a população, especialmente para crianças de rua.
Simultaneamente, Nordesta implementou seu primeiro projeto de reflorestamento. Em 1988, a organização criou o primeiro viveiro de árvores com espécies nativas da Mata Atlântica, visando reconectar fragmentos de floresta isolados e desenvolver corredores para a circulação da fauna e flora para permitir trocas genéticas. Essa iniciativa também visava proteger áreas de nascentes e margens de rios contra a erosão. Junto com os esforços de reflorestamento, Nordesta continuou implementando ações sociais, incluindo a construção de escolas, centros de saúde e oficinas de treinamento profissional.
Após duas décadas de colaboração entre Nordesta e a população local, a floresta de Pedra Talhada foi designada como "Reserva Biológica Federal de Pedra Talhada", garantindo a proteção e o crescimento da população outrora ameaçada de Anumara.
Hoje, a reserva florestal de Pedra Talhada no Centro de Endemismo de Pernambuco é uma das áreas de biodiversidade mais ameaçadas e críticas da Mata Atlântica. Esforços contínuos e pesquisas são essenciais para educar as futuras gerações, proteger hotspots ameaçados como Pedra Talhada e inspirar ações coletivas em prol do desenvolvimento sustentável.